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Ita Na Midia

PEDRAS QUE CAUSAM INDIGESTÃO EM GESTORES

“No meio do caminho tinha uma pedra,

tinha uma pedra no meio do caminho,

tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra” (CDA)



Itabira sempre teve restaurantes e botecos antológicos, frequentados por “gente boa”, assim chamada por ter poder e dinheiro. Eram também os refúgios desses “bons da boca”, que tentavam escapar da vigilância de esposas, essas praticamente proibidas de entrar nos chamados “copos sujos” para o resgate de um marido desobediente.

 

Um ou outro conseguia se esconder, enfiando-se nessas cavernas. Mas nem todos. O tempo decorrido ano a ano, os locais de frequência mudaram de nomes. Não eram mais o Bar Rubro-negro do Alto Pereira, nem somente o Lunik, o Zé Inácio ou Botafogo, esse que tinha a fama de viver sem porta. Varanda era uma espécie de atualização do Olintão, enquanto havia outros pros lados do Campestre. Daniel Jardim de Grisolia era um dos poucos que nunca escondeu aonde ia.

 

Naquele início de tarde de domingo, depois do jogo do Valério contra “Qualquer Um F. C.”,  o imperador  atual de Itabira, popular e carinhosamente conhecido como MAL, sobe meio azucrinado as escadarias internas de uma casa da moda. Assustado quando vê um cara doidão, que teria feito (e não fez) nenhum ataque do mundo atual, senão o desferimento de mísseis de bala doce sabor  hortelã.

 

No meio da escada recua, pensa em voltar para o lugar em que ia mas não vai cumprimentar o desleixado, assim tratado pelos lados de Pouso Alegre, Aliança ou, finalmente, Ipoema.

 

Definitivamente decidido a figura que, vez por outra, continua sendo folclórica nos rebolados, retorna de cara e pescoço virados, cuida-se  nos poucos metros da escadaria e parte para meio de banda para cumprir o almoço, a barriga pede, roncando, vai pegar no self-service e serve-se. Abaixando a cabeça e servindo de prato acima da cara, a falsa rigidez na nuca toma-o quase desistente, já que  teria visto uma assombração diante de si.

 

O fato segue em traumática repetição de semana em  semana, como numa outra casa da moda, especializada em churrascos, onde não foge da companheira, a porta é larga. Fazer o quê no porquê dos motivos?  “Vai, cara, enfrenta o cara, é mais um bobo alegre que vive por aí, sem destino, siga- o no topa-topa  e mostre o seu poder de perdoar. Não há como continuar tomando rumos escapatórios, a cidade é de porte interiorano, fugir de alguém que o perturba, isso pode causar uma indesejável  baixa na popularidade, a ‘deputância’ vem aí”.

 

Aí começa o levantamento de dados e possível reflexão: “Acho que vou contratar uma cozinheira porque não suporto mais ver um traidor diante de mim nessa Itabira de poucos anos de vida.”

 

Alguém o aconselha a procurar um fundo de quintal que fornece  marmitex e faz a entrega sigilosamente da boia. Impede-o o cumprimento dessa ideia a descida em escada da vida: “Onde já se viu um imperador comer boia requentada e servida por motoboys meia-bocas?”

 

Daqui para a frente, vamos acompanhar mais de perto as ocorrências que nunca darão BOs, pode crer quem acredita em educação. O que se vê é a imitação daquele poema fantástico de Drummond, mais ou menos assim: “Tinha uma pedra  no meio do caminho, porque  tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.”

 

Para completar a preocupação sofista com o futuro (outra palavra que ele detesta), diz outra frase inquietante, também drummondiana: “Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.”

 

Mas não era pedra nenhuma. Era um restaurante mesmo. A questão da digestão era gestão mesmo, ou falta dela. Itabira levou mesmo das brecas, o povo nunca saberá quem manda e desmanda em Itabira.

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