Já é o quinto acionamento indevido de sirene para evacuação de emergência da AngloGold Ashanti em Santa Bárbara que leva o pânico aos moradores
Moradores de Santa Bárbara protestam contra repetidos acionamentos de sirenes de evacuação da mineradora AngloGold Ashanti
Dezenas de moradores do distrito de Brumal, em Santa Bárbara, na Região Central de Minas Gerais sairam em protesto neste sábado (2/11) pelo acionamento indevido de uma sirene de alerta para rompimento de barragens da mineradora AngloGold Ashanti.
O soar em falso do sistema de alerta para evacuação ocorreu na tarde do dia 29/10, mas ainda há pessoas que ficaram perturbadas de uma forma tal que sequer conseguem dormir em suas casas com medo de mais um desastre envolvendo o rompimento de uma barragem.
"Uma pessoa da comunidade infartou depois do acionamento da sirene e quase morreu. Outros que são isosos e crianças caíram ao fugir, tropeçaram e se feriram no meio do desespero. imagine o que é escutar essa sirene e correr como se fosse a sua única chance de sobreviver", reclama a líder comunitária Roseni Aparecida Ambrósio Silvério, de 46 anos.
Entre as faixas, crianças relataram que não têm sossego para viver e dormir em suas casas sob a ameaça de um rompimento catastrófico.
"Nossas crianças estão a sua infância interrompida pelo medo. Meninas menstruandoaos 9 anos, com episódios de crise de pânico, laudadas por um profissionais e que não poderiam permanecer na residência. Mas que até hoje não tiveram seus direitos resguardados", afirma a liderança de Brumal.
O protesto deste sábado ocorreu na estrada que vai para o distrito de Barra Feliz, entre Santa Bárbara e Barão de Cocais, por volta das 9h.
"Fomos até lá por entender que é a comunidade menos assistida e a que está mais ameaçada em caso de um rompimento ocorrer de verdade. Não vemos atitudes sérias. Não vemos comprometimento da empresa nem das defesas civis. A sirene foi acionada e mandaram gente despreparada nos pedir desculpas depois do caos. Pessoas que não sabiam dizer o que aconteceu, se foi um problema que vai ter de novo. Ficamos nessa angústia. De que adianta uma sirene que ninguém confia?", indaga Roseni.
O barramento possui elementos tóxicos que podem causar uma catástrofe ambiental e social caso cheguem aos mananciais da região como o Rio Conceição, sendo os mais críticos para a saúde e o ecossistema o cianeto de sódio e o ácido sulfúrico.
A estrutura que retém os rejeitos é uma barragem de 82 metros de altura, com 584 metros de comprimento, área de reservatório de 370 mil metros quadrados contendo 8,9 milhões de metros cúbicos de rejeitos - praticamente a mesma quantidade que vazou no rompimento de Brumadinho (2019).
Em sua última vistoria, técnicos afirmaram à ANM que a estrutura apresentava percolação (inflitração), com umidade ou surgência nas áreas de jusante. Deformações e recalques também estão presentes, com a "existência de trincas e abatimentos com medidas corretivas em implantação", bem como "falhas na proteção dos taludes e paramentos, presença de vegetação arbustiva", segundo a ANM.
Em caso de rompimento, a barragem pode atingir até 5 mil pessoas. A agência considera que os danos ao meio ambiente em caso de ruptura sejam muito significativos, pois a "barragem armazena rejeitos ou resíduos sólidos classificados na Classe II A - Não Inertes", um indicativo de alta toxicidade.
Os prejuízos econômicos também seriam do mais alto grau. "Existe alta concentração de instalações residenciais, agrícolas, industriais ou de infraestrutura de relevância sócio-econômico-cultural na área afetada a jusante (abaixo) da barragem", segundo a ANM.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou um procedimento para investigar o acionamento indevido de sirenes do sistema de emergência de barragens da AngloGold Ashanti. Por meio da Promotoria de Justiça da Comarca de Santa Bárbara, o MPMG contatou as autoridades competentes e tomou as medidas necessárias para apurar o incidente.
Em maio de 2023, a Justiça mineira já havia concedido tutela provisória determinando que a AngloGold Ashanti não acionasse indevidamente o sistema de alert sob pena de multa de R$ 500 mil. A medida foi tomada “em razão de violação de direitos, decorrente de quatro acionamentos indevidos das sirenes do sistema de alerta da empresa, que atingiram diversas comunidades do município”, conforme informou o MPMG.
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